O Distrito Federal sediará, em março, dois eventos internacionais cujo foco será a governança dos recursos hídricos. Um deles será o 8º Fórum Mundial da Água, promovido pelo Conselho Mundial da Água e que ocorre entre os dias 18 e 23. Em contraposição a ele, uma série de entidades populares organiza o Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama), previsto para ocorrer entre os dias 17 e 22.
As organizações que promovem o Fama acusam o outro evento de ser o Fórum das Corporações. No site do Conselho Mundial da Água é possível observar que o empresariado é o setor mais presente no órgão.
Edson Aparecido da Silva, da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), afirma que o Fórum Mundial é um espaço excludente.
“O Fórum Mundial é uma grande feira de negócios. As empresas vão lá expor produtos e serviços. Para poder acessar o Fórum, você tem que pagar um valor alto, que atinge a casa de R$ 1,4 mil. As organizações da sociedade civil não tiveram a oportunidade efetiva de participar das construções do Fórum, que exclui do debate as várias organizações que lidam com a questão da água como os quilombolas, os indígenas, as mulheres, os atingidos por barragens”, diz.
No site do evento, a inscrição que dá direito ao acesso a todos os dias custa R$ 1.315. Após o dia 28 de fevereiro, o valor subirá para R$ 1.490. Segundo a organização, haverá um espaço aberto ao público voltado para atividades formativas e culturais chamado de Vila Cidadã. Silva critica esta iniciativa, categorizando-a como “puxadinho” e apontando que este será um espaço separado das atividades centrais do Fórum Mundial.
Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destaca que o Brasil tem as maiores reservas de água doce do mundo, visadas em um momento de crise mundial do capitalismo na qual há um avanço sobre os recursos naturais.
“O Fórum Mundial da Água reúne as transnacionais e os banqueiros do mundo inteiro. Reúne o capitalismo mundial e os governos que apoiam as privatizações. A pauta principal é a privatização da água. O objetivo é estabelecer a propriedade privada sobre a água para que os diferentes ramos de negócios relacionados sejam dominados pelo capital para gerar lucro e acumulação. O Fórum Alternativo é a oposição a isso”, explica.
Segundo Cervinski, o Fama tem como objetivo, em meio à sua composição plural e diversa, construir leituras comuns sobre “um outro projeto de uso da água” que não sejam as privatizações e um calendário de lutas nacional e internacional relacionado ao tema.
A reportagem procurou o Fórum Mundial da Água, questionando os valores das inscrições e a crítica de que não houve participação popular em sua construção. Até o momento de conclusão desta matéria, não houve resposta.
Edição: Nina Fideles